01 de Outubro: Dia Internacional da Pessoa Idosa

Brasília, sábado, 1 outubro, 2022

01 de Outubro: Dia Internacional da Pessoa Idosa
Por: Juliana Gai
Atualizado em: 1 outubro, 2022

Olá, pessoal. Hoje é um dia muito especial para a humanidade: o Dia Internacional da Pessoa idosa. Em 1991, a ONU (Organização das Nações Unidas) criou esta data comemorativa e de conscientização como um meio de despertar discussões políticas, sociais e de saúde a respeito do envelhecimento populacional no mundo.

Como todos aqui já sabem, envelhecer é um caminho comum a todos nós. Não há como fugir e a gente nem quer, já que a outra opção não é nada agradável. Mas, apesar de vivermos cada vez mais, ainda temos, enquanto sociedade, uma certa resistência em aceitar que envelhecer faz parte do curso de vida normal, devendo o processo ser olhado como se olha para a infância, para a adolescência, para a maternidade, e para outras fases da vida. Ou seja, considerando e respeitando-se suas particularidades. Pois só um olhar ampliado consegue listar os problemas reais a serem resolvidos. É a mesma coisa que acontece quando fizemos avaliação dos nossos pacientes durante as consultas. Só olhar a “ponta do iceberg” não propicia a identificação de todos os fatores sobre os quais devemos agir com o tratamento para que este seja eficiente.

Por que é tão mais comum que as pessoas se preocupem com as crianças em seu processo de desenvolvimento do que com pessoas em processo de envelhecimento? Não é que se preocupar com as crianças não seja necessário. As crianças são realmente o futuro da sociedade, são quem irá gerar renda e formar famílias, dando continuidade ao processo natural da vida humana na terra. Além disso, as crianças de hoje serão os velhos de amanhã.

Nossa, que frase impactante! Mas que tal a gente aprender a pensar e colocar em prática?
Mas em que sentido de prática? No sentido de tais crianças começarem a entender justamente isto, que ficarão idosas também. E, assim, poderão olhar com mais naturalidade para seus avós e bisavós, e colherem deles histórias que poderão ensinar-lhes muita coisa sobre escolhas, consequências, surpresas e, principalmente, como é que a gente pega limões
que a vida nos dá e faz deles uma limonada.

Pois é… quem já viveu mais tem muito a contribuir com a sociedade sim. Mas, infelizmente, tende a ser visto como peso extra. Aqueles quilinhos a mais que, caso forem eliminados, trarão até um certo alívio. Que pena!

Muito tem se falado sobre desestereotipar a pessoa idosa e deixar de vê-la como a imagem da decrepitude e da nutilidade. Muitas pessoas idosas produzem grandes feitos até idades bem avançadas, por exemplo. O conhecimento intelectual costuma ter um valor um tanto mais aceito pela sociedade. Está no inconsciente coletivo que quem estudou muito é uma autoridade em determinado assunto. Portanto, pessoas idosas da classe intelectual tendem a ser um pouco mais “engolidas”, digamos assim, pelos mais jovens.

Mas nem sempre o conhecimento vem só dos estudos e da produção intelectual. Afinal, de que adianta saber muito sobre técnica e não saber colocar em prática? O conhecimento intelectual é maravilhoso, mas não é o único caminho para compreender a magnitude da sabedoria de quem vive muito.

Em um dado momento profissional, eu viajava o país todo fazendo capacitação de servidores do SUS (Sistema Único de Saúde) em gerontologia. Lembro-me até hoje das pessoas idosas que conhecia nestas viagens. Normalmente eram as mais ativistas das causas dos idosos nas suas cidades, portanto participavam dos eventos das Secretarias de Saúde ou eram membros de Conselhos dos Direitos das Pessoas Idosas. Certa vez, uma parteira de mais de 90 anos, de Belém do Pará, diante do não funcionamento do meu microfone e da queima do projetor de slides, levantou-se da plateia, veio até mim e me contou que a vida lhe ensinara a improvisar e que aprender improvisar era fundamental, mas que só se aprendia com a prática. Ela fazia partos desde muito jovem em locais distantes de hospitais. Teve de ensinar a muitas mulheres a serem protagonistas do próprio corpo e acreditava, muito, que quando alguém se decidia por algo e perseguia sua escolha até o fim, não tinha como não dar certo, não importava o imprevisto. Contou também que, quando realmente não dá certo, pode ser provável que Deus queira estar nos mostrando algum outro caminho, porque Ele sempre nos leva para o melhor. Fico emocionada com esta lembrança até hoje. Porque eu nem tinha 30 anos. Era uma jovem cheia de sonhos e dúvidas. Tinha vivido já alguns momentos de adversidade que abalaram a minha fé e muitas coisas passavam pela minha cabeça. De repente, uma pessoa idosa, analfabeta, prática na sua profissão, me deu uma lição de vida.

Então é isto. Hoje fala-se muito de assuntos tão importantes, como o preconceito de idade, conhecido como idadismo, que exclui as pessoas 50+ do mercado de trabalho, exclui também da capacidade de fazer escolhas e coloca os seres humanos “de certa idade” como pessoas incapazes de aprender e contribuir com a sociedade. São muitos os problemas derivados do
idadismo, que não deixa de ser uma violência velada contra as pessoas mais velhas. Fala-se muito de problemas econômicos derivados de aposentadorias precoces e do não planejamento destas. Fala-se muito em envelhecimento saudável, ativo e feliz. E também se discute sobre os desafios de cuidar de quem já envelheceu e já está dependente.

Todos estes temas são fundamentais para a construção de uma sociedade acolhedora e digna para as pessoas idosas. E é importante que continuemos a discutir tudo isto.

Mas o lema do Dia Internacional da Pessoa Idosa deste ano expressa uma necessidade urgente de olhar para o envelhecimento com a tal visão mais ampla, mais profunda, para a parte do iceberg que fica submersa. E, deste olhar, tirar grandes lições para a humanidade: “Resiliência das pessoas idosas num mundo em mudança”.

Sim, o mundo muda a passos acelerados. Nos últimos dois anos e meio, por exemplo, vimos uma revolução tecnológica se expressar forte e claramente diante dos nossos olhos. O isolamento social, decorrente do surgimento de um vírus, estimulou os seres humanos a novas descobertas e reinvenções.

Como ficaram as pessoas idosas nestes últimos tempos? E não estou falando das que já são dependentes, a estas nós devemos nossa mais profunda lealdade, que deve ser expressa no cuidado digno no dia a dia. Estou falando de quem é uma “ jovem pessoa idosa” nos dias atuais, que perdeu seu emprego, que passou a ser invisível e que precisa da nossa mão para retomar sua forma original. Pessoas que precisam desconstruir o idadismo sob o qual vivem e terem oportunidade de aprenderem e sentirem-se parte destas transformações. Pessoas que precisam aprender a acreditar que seu conhecimento maduro não é menos necessário à sociedade do que o traquejo com a vida digital que os mais jovens possuem e nem os faz
menos dignos de reverência. Mas, para que esta resiliência seja desenvolvida, é preciso um olhar mais amplo para as questões do envelhecimento populacional no Brasil, um país enorme, com grande desigualdade social, imerso em uma variedade de culturas e nem sempre preocupado suficientemente com seus idosos.



Juliana Gai
Gerontóloga, Fisioterapeuta e Terapeuta em Saúde Mental
E-mail: gerontologiapratica@gmail.com
Instagram: @drajulianagai
Youtube: Gerontologia Prática

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