“O turista da própria cidade – Tour pelos pilotis”

Certa vez fiz uma perambulação muito despretensiosa em Brasília. Alguns finais de tarde de sábado e domingo, um pulinho aqui e ali em lugares próximos – clicks, clicks e takes. Então eu tive material suficiente para fazer um reels no instagram que, confesso, nunca pensei que repercutiria tanto. 

Essa andança descomplicada publicada na internet atraiu os olhares dos cidadãos brasilienses mais fascinados. Alguns marcaram os amigos fotógrafos, outros marcaram presença – “já fui em todos!”. Alguns cobravam: “esqueceu desse!”. E era verdade!

Batizei o vídeo de “tour pelos pilotis”, propondo uma espécie de turismo arquitetônico pelas bases que seguram os edifícios da nossa capital federal. “Eita, que programão, heim?” – comentou ironicamente uma pessoa que vagueava pela internet com desinteresse. Ver beleza no cotidiano de fato não é para qualquer um. Requer olhar apurado e simplicidade de espírito. 

SQS 210, Bloco I

Hoje e já há um bom tempo escrevo para o turista da própria cidade. Porque ser turista na cidade alheia é fácil demais para a natureza humana – habituada a almejar o que é do outro. Faço desse desafio um propósito e dou holofote à rotina.

Admito, desde que vim a Brasília pela primeiríssima vez, os pilotis me encantaram. Chamou-me a atenção uma expressão bem brasiliense: “debaixo do bloco”. De início eu não entendia. “A gente se encontra debaixo do bloco”, “estava jogando bola debaixo do bloco”, “nosso primeiro beijo foi lá mesmo, debaixo do bloco”. E a expressão se referia a esses pilares de prédios – pilares de histórias. 

SQS 203, Bloco G

De início, ao caminhar pelos pilotis, sentia que estava cometendo violação de domicílio. Olhava para o lado e via outros supostos infratores cometendo a mesma ousadia publicamente – à plena luz do dia. Como eu poderia imaginar que nesse Brasil de meu Deus existiria acesso público aos prédios residenciais?

Encanto. 

Daí a inspiração do tour pelos pilotis, além do óbvio elemento  arquitetônico desse cenário. 

Quando fui na SQS 308, famosa Quadra Modelo, o bloco F tinha tantas pessoas fazendo a mesma exploração, que tivemos que  enfrentar fila para tirar foto na passarela! Visitamos a “igrejinha da 308”que, coincidentemente, dias depois completou 65 anos! 

Já as formas geométricas da SQS 210, Bloco I, da SQS 203, Bloco G, e da SQN 211, Bloco K são tão charmosas que viraram cenário para fotógrafos e aulas ao ar livre, como yoga e funcional. 

Um me fugiu ao roteiro e depois fui chamada atenção pelos seguidores: “Faltou o bloco F da 107 norte!”. Cirúrgico. De fato, as brises e os azulejos de Athos Bulcão desse edifício não poderiam ter sido esquecidos.

Apresento, portanto, o roteiro dessa caminhada cultural, cabendo a você, turista na própria cidade, apurar o olhar. E se após ler esse artigo você seguiu alguma das minhas sugestões, não esquece de postar uma foto e nos marcar: @portallagosul e @laembsb. Vamos amar ver você curtindo essa experiência TÃO brasiliense!